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22 July 2022
Entrevista de Bernardo Trindade ao Expresso: "A recuperação é forte, Portugal não pode esoerar mais pelo aeroporto"
Bernardo Trindade Presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) A recuperação do turismo está a ser mais forte do que se previa. Portugal irá liderar este processo em 2022, segundo projeções da Comissão Europeia. E é preciso acelerar a decisão sobre o novo aeroporto além de avançar “obras urgentes na Portela”, frisa o presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP). Havendo previsões das ocupações e receitas igualarem ou mesmo superarem 2019, Bernardo Trindade também adverte haver ainda muitas incertezas e constrangimentos, sobretudo derivados da guerra na Ucrânia. Como está a correr este arranque do pico do verão, marcado por situações de caos nos aeroportos? A recuperação está a ser mais rápida do que prevíamos, sente-se em todas as regiões do país e sobretudo nas regiões autónomas, Madeira e Açores, que a estão a liderar. Um inquérito recente da AHP aponta para níveis de ocupação semelhantes a 2019 e com um nível de preço superior. No início do ano, pensava-se que conseguir menos 10% ou 20% que 2019 seria um resultado excelente. Com o evoluir da situação percebemos que a recuperação é mais forte e a procura internacional ressurgiu acima das expectativas: as pessoas querem viajar, sair das suas casas, fruir de um ambiente de lazer em Portugal. Mas para os hotéis ainda é um equilíbrio precário, pois estamos a ser confrontados com outros constrangimentos, como a saturação das infraestruturas aeroportuárias por toda a Europa e pelo mundo, não é um tema só de Portugal. O aeroporto de Heathrow disse às companhias aéreas para não venderem mais bilhetes no verão. Os cancelamentos dos voos estão a chegar aos hotéis por efeito dominó? A informação que temos da ANA é que os cancelamentos nos aeroportos nacionais são de 2% a 3% em relação ao que estava previsto. Significa que estas pessoas não estão a chegar ao hotel para fazer check-in, sentiu-se esse efeito em Lisboa e um pouco no Algarve, mas não é significativo ao ponto de pôr em xeque o processo de recuperação. É uma situação que vamos acompanhar, reflete o momento que vivemos em que até os aeroportos dizem aos operadores para deixarem de vender por incapacidade de resposta. Dou o exemplo recente de um avião vindo da Alemanha para o Algarve cheio de passageiros, e chegaram todos sem malas. Isto porque na origem, na Alemanha, não havia pessoas no aeroporto para fazerem o transporte destas bagagens. A Confederação do Turismo de Portugal (CTP) avançou que adiar um novo aeroporto até 2027 ia custar ao país €6,8 mil milhões, e que esta decisão do Governo será anunciada em breve. Tem essa indicação? O estudo da CTP teve o mérito de trazer números, e muito significativos, sobre a falta do aeroporto. O que interpelamos o Governo é para uma decisão, Portugal não pode esperar mais, não pode dar-se ao luxo de perder a procura crescente de estrangeiros que querem vir, gastar e gerar valor ao país. A Comissão Europeia projetou que Portugal vai liderar a recuperação em 2022, que estará muito alicerçada no turismo. Se o país é o que mais crescerá a nível da União Europeia, a nossa preocupação é que em 2023 a principal infraestrutura aeroportuária não terá capacidade de responder a esta esperada recuperação. E precisamos urgentemente de fazer obras na Portela, para haver mais estacionamentos de aviões, melhor qualidade de serviço dos prestadores, e um deles claramente é o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). Hoje parece que já não é notícia, mas há mês e meio atrás tivemos situações de passageiros dos Estados Unidos e Canadá em espera de cinco a seis horas para entrarem em Portugal. Num momento com tanta procura, como estão os hotéis a lidar com a falta de pessoal? No Algarve, a nossa principal região turística, quem não se preparou atempadamente para o verão está a ter dificuldades em manter o seu negócio. Essa falta sente-se por todo o país, e não é um tema só português ou do turismo. Os hotéis estão a fazer a sua parte, celebrámos um novo contrato coletivo de trabalho com o Sitese (Sindicato dos Trabalhadores do Sector de Serviços) integrando reivindicações que se relacionam quer com carreiras, quer com salários. Foi muito satisfatório para nós ver refletido no novo contrato coletivo flexibilidade e banco de horas. Cada um dos nossos hotéis associados olha hoje de forma diferente para o tema do recrutamento, até por necessidade: estamos a pagar mais, estão a ser dados passos importantes na relação com a força de trabalho. Mas sentimos que, ainda assim, não é suficiente. O turismo precisa de quantos trabalhadores nesta fase de aumento de procura? O nosso objetivo é poder recuperar, o quanto antes, os cerca de 45 mil trabalhadores que perdemos entre dezembro de 2019 e dezembro de 2021, sempre com a noção que é preciso manter a qualidade de serviço que levou Portugal a ganhar um conjunto vasto de prémios. Num processo de recuperação que está a ser mais rápido do que prevíamos, temos de encontrar respostas a vários níveis. Saudamos a ratificação do acordo de mobilidade para trazer trabalhadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) — o que não é só um tema para o turismo ou para este momento — mas sentimos que isto na prática não basta, a regulamentação tem de ser ágil e rápida, e esse é o apelo que estamos a fazer ao Governo. Na AHP consideramos que para se obter uma licença para efeitos de mobilidade deve ser suficiente um contrato de trabalho, comprovativo de morada e um cadastro criminal limpo, essa é a nossa reivindicação. Quanto poderá atingir o aumento de receitas nos hotéis em 2022? Não se consegue ainda quantificar, falando com os nossos associados sentimos que estão criadas condições para atingir níveis de ocupação idênticos a 2019, podendo vender melhor. Mas isto é do ponto de vista da receita, vendo do lado da despesa estamos a ser confrontados com vários fatores, em resultado da guerra na Ucrânia temos cadeias de distribuição que foram interrompidas, e com uma inflação generalizada dos custos de produção, como eletricidade, gás, alimentação, e de forma geral em todos os serviços que compõem a oferta hoteleira. Temos conseguido refletir parte destes custos no preço de venda ao cliente. Mas até quando? É uma pergunta para a qual não temos resposta, não sabemos quanto tempo mais demora esta guerra, que continua a ser uma ameaça muito forte, ou se se conseguirão construir alternativas do ponto de vista de fornecimento de forma a não inflacionar tanto os preços. Permanece um conjunto de interrogações que são muito significativas. Estamos a recuperar, dá-nos ânimo em relação ao futuro, mas sentimos que este é um equilíbrio precário. E sem esquecer que vimos de dois anos desastrosos, com os hotéis fechados, os colaboradores em casa, os clientes impedidos de vir, e os nossos balanços ainda serão fortemente marcados, na demonstração de resultados, com 0 que se passou em 2020 e 2021. Como vê nesta fase de recuperação o papel da TAP, que também não tem escapado ao cenário de voos cancelados? Os cancelamentos estão a atingir todas as companhias aéreas. E a TAP sofreu um processo de reestruturação muito duro, que passou por despedir 1600 pessoas, em resultado do plano que foi aprovado pela Comissão Europeia. Com os aviões no chão e os clientes em casa devido à pandemia, as empresas fizeram 0 que do ponto de vista económico era racional na altura: ajustar as estruturas em função de uma ausência de procura. A procura regressou, de forma muito rápida, e a TAP continua a trazer muitos turistas para 0 país. É um instrumento fundamental para a recuperação de Portugal e do turismo, a TAP nunca poderá ser negligenciada ou dispensada. >> Leia a entrevista na íntegra aqui. Entrevista de Bernardo Trindade no Jornal Expresso, de 22 de julho de 2022.
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21 July 2022
Faltam pessoas, faltam soluções (II), por Cristina Siza Vieira
"Travel Chaos in Europe is a glimpse of a future with spare workers. Employers are wondering where the staff went." The Economist, 7 julho 2022 Na minha última crónica (DN 15/6) dei conta da tremenda preocupação que varre Portugal e toda a Europa ocidental - ou melhor todo o mundo ocidental - quanto à escassez de trabalhadores em vários setores, mas sobretudo no Turismo. E adiantei os "culpados". Que, por serem vários, não permitem uma única solução. Não, lamento, mas não é apenas o "pay them more" que nos vai permitir responder a um problema que tem várias causas. Menos ainda a obsoleta (e quase pueril) proposta em transformar os contratos a prazo em contratos sem termo. Tomara que a solução fosse assim tão simples! Nem de propósito, o insuspeito The Economist dedicou-se ao tema na última edição e, além de descrever o caos vivido na Europa - começando nos aeroportos e acabando em hotéis, restaurantes e cafés -, fala de uma alteração profunda e estrutural (tanto quanto se pode antever, mas...). Um dos pontos críticos respeita ao modo como as pessoas encaram hoje os modelos de trabalho. Seja quanto aos horários, seja quanto à independência no exercício das funções, seja quanto à "recompensa", material e emocional. Por isso, diz, a nova economia prestadora de serviços à distância é a grande campeã na captação e retenção de talentos. Onde é que isso nos deixa? Se o Turismo depende em absoluto de trabalhadores fisicamente presentes, será que corremos o risco de acabar com o Turismo? Ou é possível trazer para este setor novas abordagens? E, sendo tal possível, quais os drivers da mudança? Para mim esta é uma resposta de duplo sentido. Sim, é possível atrair e reter trabalhadores para o Turismo. E não, não é possível concorrer em toda a linha de produção, chamemos-lhe assim, com as plataformas. Sendo muito limitado o espaço para desenvolver tão rico e desafiante tema, resta-me, em razão das causas que já apontei, enunciar possíveis soluções para a nossa indústria em Portugal. A meu ver, haverá que combinar 4 fatores principais. Primeiro, adaptação das empresas. Seguramente oferecendo outras e melhores condições remuneratórias e de gestão de horários aos trabalhadores, designadamente com recomposição dos turnos e horários de trabalho menos pesados - o que, note-se, presume contratação de mais trabalhadores e uma gestão de RH tremendamente exigente, mais taylor made, em razão das necessidades, idades, flexibilidade dos trabalhadores. Segundo, muito maior esforço do Estado, criando muito mais rápidas condições para a imigração e desagravando a carga fiscal que pesa sobre as empresas para a contratação. Terceiro, adaptação dos trabalhadores e das estruturas sindicais que os representam para a maior flexibilidade, quer para a polivalência, quer para diferentes modelos de organização. Quarto, e não menos importante, adaptação do serviço, desde logo porque há ainda muito espaço para a digitalização e para, com imaginação, "habituar" os nossos hóspedes e turistas a outro tipo de atendimento e serviço. Exemplos deste tipo? Hotéis sem receção física, com check-in e check-out feitos por apps, totens, ou até robots; restaurantes com mais autosserviço; limpezas de quartos menos frequentes (não só pelos menores custos e menor disponibilidade de trabalhadores para tal, como pelos impactos ambientais). E, claro, onde o serviço humano é guardado para a personalização da experiência, para tarefas menos chatas, e por isso muito mais bem pago. Como diz um dos meus filhos viajantes, "hotéis Ryan Air": tudo - vá, quase tudo - para lá da cama é pago on top. Tudo junto irá resolver o problema? No imediato não. Mas prepara-se o futuro. PS: o desemprego na Zona Euro está hoje em 6,6%, o mais baixo desde a criação do Euro há 20 anos.
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05 July 2022
Aeroporto. A indefinição é antieconómica, diz AHP
“A situação criada é muito má para o país. A solução para o Aeroporto de Lisboa é, há muito, urgente”. A Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) “lamenta profundamente o retrocesso havido em torno da questão aeroportuária”. lembrando que tinha recebido a notícia da solução aeroportuária para Lisboa com otimismo e expectativa, reiterando, uma vez mais, “que o arrastar desta situação, com décadas de debate; o desperdício de investimento em concursos, estudos e análises; o dispêndio inglório de energia em avanços e recuos é inaceitável”. Para Bernardo Trindade, presidente da AHP, “a situação recentemente criada é muito má para o país. A solução para o Aeroporto de Lisboa é, há muito, urgente, urgentíssima no curto prazo. Como é sabido a perda de oportunidades devido à incapacidade de resposta, nomeadamente na falta de slots é uma realidade muito prejudicial para o setor do Turismo, mas também para a economia do país. Portugal não se pode dar ao luxo de rejeitar clientes por falta de soluções de mobilidade”. E acrescenta: “A falta de capacidade aeroportuária de Lisboa afeta todo o país, não só a região de Lisboa, pelo que uma decisão imediata, seja ela qual for, é estrutural, sobretudo numa altura em que recuperamos de uma pandemia e vivemos momentos de instabilidade geopolítica. Esta indefinição traz, para já, problemas no imediato, mas também a médio e longo prazo que têm de ser resolvidos. Todas as soluções agora encontradas só trarão benefícios para Portugal daqui a uns anos e é fundamental para já a realização de obras no Aeroporto Humberto Delgado que permitam aumentar o número de lugares de estacionamento, melhorar a circulação em terra com aumento do número de movimentos, tudo articulado com uma mais eficaz monitorização do espaço aéreo”, vinca o responsável, que acrescenta: “a fazer fé nas declarações dos responsáveis políticos, apesar do ruído de fundo, há vontade em definitivamente tomar decisões. Aliás, o recém-eleito líder do PSD reconheceu que “o país e Lisboa precisam de reforçar a capacidade aeroportuária e suprir insuficiências que existem e prejudicam o interesse nacional”. Espero que assim seja e, sobretudo, que, além de tomadas, as mesmas sejam rapidamente executadas.” Face a este cenário, a AHP “apela ao Governo e aos demais intervenientes que, apesar deste retrocesso, não se perca o foco e se trabalhe de forma célere para encontrar uma solução aeroportuária definitiva, a bem de Portugal e da imagem do país. Já não há mais margem para adiar uma decisão que é estratégica para Portugal”. in Jornal i
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17 June 2022
Faltam pessoas, faltam soluções (I), por Cristina Siza Vieira
Turismo em Portugal é o prato forte do momento, de que todos se sentem habilitados a falar, por boas e más razões. De uma banda, é apontado como responsável pela forte recuperação da economia portuguesa no pós-covid, que nos irá permitir uma saída acelerada da crise, antecipando as previsões de retoma, quer por parte das autoridades portuguesas, quer das internacionais. De facto, da Comissão Europeia vem o consolo da previsão de um crescimento económico em Portugal em 2022 de 5,8%, muito acima da Zona Euro (2,7%), e é apontado o Turismo Internacional, em franca recuperação, como o inequívoco responsável para este crescimento. De outra banda, não há dia em que não se fale da tremenda falta de pessoas para trabalhar no Turismo, especialmente na hotelaria e na restauração. Sem dúvida uma e outra são constatações verdadeiras e ambas estão ligadas, quer já no momento presente, quer no futuro. Porque sem pessoas não há Turismo e sem Turismo o nosso país não prospera, o que se fizer hoje irá marcar o futuro do país. O tema da escassez de RH é já velho. Basta navegar nas notícias por essa busca e, já em 2017, os hoteleiros vinham alertando para a necessidade de se captarem pessoas para as escolas e profissões hoteleiras, quer para house-keeping, serviço de cozinha e mesa, quer para receção, revenue managment, apoio administrativo, etc. Em 2019 foi reforçado o sinal de alerta e apontada a urgência em serem abertos canais mais ágeis para captar trabalhadores emigrantes, sobretudo no perímetro da CPLP. Portanto, o que aconteceu de lá para cá foi o agravamento dessa situação, que, aliás, veio a atingir vários setores económicos, e toda a Europa ocidental. E os tais "canais" não-abertos. As causas são várias, por isso as soluções tudo menos fáceis. Desde logo apontam-se o nosso "inverno demográfico" - a baixa taxa de natalidade em Portugal -; a maior qualificação das pessoas; os salários baixos; os horários e condições de trabalho; a rigidificação da contratação coletiva; o peso dos custos laborais para as empresas; os prolongados esquemas de lay-off e apoios ao desemprego durante a pandemia e a conversão noutros tipos de funções e trabalho que a mesma potenciou. Vários destes constrangimentos são comuns a quase todos os países europeus, dos menos aos mais fortemente "turísticos". Para não irmos mais longe, aqui ao lado, em Espanha ,a indústria turística diz que lhe faltam 100 mil trabalhadores; em França a maior associação do setor diz que faltam 250 mil, só para cafés e restaurantes; em Itália o presidente da maior federação diz que faltarão este verão 20% dos trabalhadores necessários e o ministro do Turismo concretiza: 250 mil. Já para não falar no Reino Unido, neste caso mais ainda a braços com as consequências do Brexit e a saída brutal de emigrantes. Ou seja, quando em novembro de 2021 a Associação da Hotelaria de Portugal avançou com o número de 15 mil trabalhadores em falta, só para os hotéis, se pecámos, foi por defeito. É que, com a expectativa de crescimento que o verão nos traz, esse número ficará muito aquém das necessidades, havendo ainda que somar todas as outras fileiras do Turismo, particularmente na restauração. Dado o diagnóstico, que soluções poderão ser desenhadas? Aponta-se a necessária subida de salários como cura para este desespero. E criticam-se os empresários por hoje arrepelarem os cabelos quando pouco fazem para cativar e reter os trabalhadores. Será assim? É justa a crítica? Será que a subida dos salários, admitindo que as empresas a podem suportar, só por si iria resolver o problema? Não creio. Porque o tema é muito sério e merece séria reflexão, deixo para a próxima crónica a minha perspetiva. Cristina Siza Vieira Vice-presidente executiva da AHP - Associação da Hotelaria de Portugal in Diário de Notícias