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Opinião: “Turismo de negócios: um ativo estratégico para os hotéis”

Há muito que ultrapassámos a ideia de Portugal como um destino “só” (que já não seria pouco!) de sol & mar e lazer. A par da nossa cultura, gastronomia, paisagens e pessoas, temos cada vez mais firme o nosso posicionamento como destino que organiza grandes, médios e pequenos eventos, desde festivais, desporto ou encontros religiosos em enorme escala, aventura ou casamentos…e crescente procura pela meeting industry. E é um facto que Congressos, convenções, incentivos e eventos corporativos têm sido um grande motor do nosso Turismo. Porque, naturalmente, não ocupam apenas salas de conferência. Ocupam quartos, geram consumo fora de época e criam, para o País e não apenas para o Turismo, valor económico, reputacional e estratégico.

Os participantes de eventos gastam mais — em alojamento, restauração e experiências — e tendem a prolongar estadias, muitas vezes transformando a deslocação profissional numa oportunidade de lazer.

Este segmento está longe de ser um nicho. É uma alavanca estruturante para a hotelaria. Permite esbater a sazonalidade, estabilizar a ocupação ao longo do ano e atrair um perfil de cliente com maior poder de compra. Os participantes de eventos gastam mais — em alojamento, restauração e experiências — e tendem a prolongar estadias, muitas vezes transformando a deslocação profissional numa oportunidade de lazer. O bleisure reforça o valor do segmento, trazendo hóspedes que voltam, não só em contexto profissional, mas também pessoal e familiar.

Um congresso de mil pessoas movimenta transfers, enche restaurantes locais, dinamiza espaços culturais e ativa toda uma rede de serviços

Não é demais recordar que o impacto económico vai muito além da unidade hoteleira. Um congresso de mil pessoas movimenta transfers, enche restaurantes locais, dinamiza espaços culturais e ativa toda uma rede de serviços — desde audiovisuais a produção de eventos, passando por guias, catering e experiências personalizadas. Cada euro investido em MICE multiplica-se na economia local e reforça a atratividade e notoriedade do destino.

Portugal está particularmente bem posicionado, tem acessibilidade aérea, infraestruturas modernas, um clima favorável e uma reconhecida qualidade de serviço. Mas isso não é exclusivo. A concorrência internacional é grande. De resto, a evolução tecnológica impulsionada pelos eventos híbridos elevou o patamar de exigência em termos de conectividade, cibersegurança e soluções digitais. Mas também de conectividade entre transportes (ai as nossas redes de mobilidade e transporte…), resposta a picos de pressão sobre a saúde e segurança. O mesmo se aplica às exigências com a sustentabilidade: preferências por fornecedores locais, soluções logísticas de baixo impacto e eliminação de materiais descartáveis — práticas que não só respondem às expectativas dos organizadores, como elevam os padrões operacionais e posicionam os operadores como agentes ativos na transição verde.

Por isso, se queremos manter — e reforçar — a nossa presença no radar dos event planners globais, precisamos de articulação institucional, promoção externa coordenada, incentivos fiscais competitivos, capacidade de adaptação dos operadores e investimento contínuo na formação de equipas.

se queremos manter — e reforçar — a nossa presença no radar dos event planners globais, precisamos de articulação institucional, promoção externa coordenada, incentivos fiscais competitivos, capacidade de adaptação dos operadores e investimento contínuo na formação de equipas.

De acordo com o último ranking da ICCA, continuamos a ser um dos destinos preferidos para congressos e convenções, ao ocupar a 9ª posição do ranking mundial e a 7ª no ranking europeu. Com o Porto a ocupar o 18.º lugar da tabela europeia e Lisboa no top 3, só atrás de Paris a nível europeu e em 3º lugar em termos mundiais.

Estudos recentes sobre Lisboa e Porto confirmam a relevância deste segmento: eventos de negócios e desportivos geram os maiores picos de ocupação e forçam hotéis a estratégias de preço dinâmico, marketing digital segmentado e parcerias com organizadores. Mais ainda, mostram que o MICE obriga à inovação de produto, do design de salas imersivas e abre a porta a pacotes de city-break ou outros para acompanhantes.
A aposta na meeting industry é, por tudo o que disse atrás, uma decisão estratégica. É reputação, é economia, é posicionamento do País. Se esta é uma indústria forte, todo o destino beneficia. Muito para lá de hóspedes nos hotéis, ganha-se escala, influência e inovação em várias indústrias e setores que servem a todos como resposta a desafios de crescimento.

por Cristina Siza Vieira
vp executiva da AHP

»Este artigo foi publicado na edição 352 da Ambitur.

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