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Em tempo de "guerra" abriram 23 hotéis no país

A confiança dos empresários esmoreceu, mas ainda assim não baixaram os braços num ano em que o setor hoteleiro perdeu 3,2 mil milhões de euros em receitas. 
 
É indiscutível que a pandemia da covid-19 apanhou o mundo desprevenido e um dos setores mais afetados foi o turismo. Os empresários hoteleiros viram-se forçados a fechar portas, a recorrer aos apoios do Estado e a repensar estratégias. Um ano e meio depois do primeiro confinamento, há ainda muitas contas a fazer. Para já, sabe-se que em 2020 a atividade hoteleira perdeu 3,27 mil milhões de euros em receitas, as dormidas caíram 75% e os hóspedes 76", lembra Raul Martins, presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP). Mas, apesar deste impacto brutal, os empresários hoteleiros não baixaram os braços e no primeiro ano da "guerra" contra o vírus SARS-CoV-2 abriram 23 novos hotéis no país. 
 
Como sublinha Raul Martins, "vivemos tempos equivalentes a uma guerra, mas a maioria dos empresários aguentou as suas empresas e os postos de trabalho". Foi a região Norte que concentrou a maior fatia de aberturas de novas unidades. Foram inaugurados 12 hotéis no Norte, oito dos quais no Porto, seis na Grande Lisboa, três na capital, três na região Centro e dois no Alentejo. O número de aberturas pode parecer diminuto face às 51 unidades que estavam inicialmente previstas, e à dinâmica da atividade que apresentava um pipeline de 220 novos projetos (mais de 18 mil quartos) até final de 2023. Mas, afirma Raul Martins, os desvios entre anúncios de abertura e a sua real efetividade "são basicamente idênticos aos do ano anterior". Em 2019, abriram 24 novos hotéis, dos 65 inicialmente previstos, de acordo com os dados da AHP
 
Esta discrepância prende-se com fatores como atrasos no licenciamento, nas aprovações e na construção, e também com mudanças de estratégia dos investidores. Claro está que o deflagrar da pandemia também contribuiu para uma contração nas decisões de abertura. Como frisa Raul Martins, em 2020, há uma questão excecional: "A pandemia que acarretou um 'shut down' do turismo a nível mundial e incertezas quanto ao futuro". 
 
E 2021? 
 
A AHP não tem neste momento dados sobre quantas novas aberturas terão ocorrido nestes primeiros oito meses do ano. No seu último relatório de mercado, a Cushman & Wakefield (C&W) adiantava que muitos operadores "optaram por adiar estrategicamente a data de conclusão das unidades em construção por um breve período, aguardando a normalização dos níveis de procura". A consultora admitia também que "alguns hotéis ainda em fase de projeto ou licenciamento tenderão a ter os seus planos de investimento meticulosamente revistos", situação que se deverá refletir numa "contínua revisão em baixa da nova oferta hoteleira prevista até final de 2023". Dos 220 novos estabelecimentos hoteleiros que estavam em pipeline no final do ano passado, a C&W detetou para já uma ligeira quebra, para 207. Este potencial investimento concentra-se maioritariamente nas duas áreas metropolitanas do país, nomeadamente em Lisboa (4000 quartos), Porto (2200 quartos), Vila Nova de Gaia (1150 quartos) e Cascais (1050 quartos). 
 
Raul Martins está a aguardar os números de agosto para medir a temperatura da atividade hoteleira, um indicador que os investidores não estarão alheios para definir a estratégia futura. "Sabemos que também este ano foi o mercado interno que puxou pelo destino, porque o mercado internacional ainda não regressou, e só se fará quando os certificados de vacinação de fora da UE forem aceites em Portugal e se recuperar o transporte aéreo de passageiros", adianta. 
 
As estatísticas do Algarve, a principal região turística do país, corroboram com estas declarações. Em agosto, o mercado doméstico aumentou 50,8% na região algarvia e o externo diminuiu 58,6% face ao mesmo mês de 2019. Em termos acumulados, desde o início do ano, a ocupação quarto registou uma quebra superior a 59% e as vendas uma descida de 55% face ao mesmo período de 2019, avançou a AHETA (Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve). Em conclusão, a atividade hoteleira está ainda muito longe dos níveis pré-pandémicos. 
 
Os hoteleiros portugueses admitem uma retoma da atividade a partir de 2023, mas a Organização Mundial de Turismo já fala em 2024. Para além da pandemia, há um conjunto de outros fatores determinantes para a recuperação da atividade, como a retoma do transporte aéreo e o turismo de negócios, um dos segmentos mais afetados pela crise sanitária, aponta Raul Martins. Nestas matérias, a indefinição do futuro da TAP e do aeroporto de Lisboa são "gravíssimas". O presidente da AHP é taxativo: "Tem que haver uma solução! Já passou mais de ano e meio desde o início da pandemia e a situação continua inalterada, ou talvez pior, porque agora nem se vislumbram alternativas." E não tem dúvidas, esta questão "vai ser o grande entrave à retoma da hotelaria de todo o país e ao crescimento económico".

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