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Associações de vários sectores alertam para “impacto brutal” da greve de motoristas

Associações de hotelaria, da restauração e de taxistas alertam para o impacto enorme que a paralisação dos motoristas terá na economia e na imagem do país. E defendem que é preciso garantir o fornecimento de bens e serviços no próximo mês em todo o território nacional
 
As associações de vários sectores manifestam-se preocupadas face ao pré-aviso de greve dos motoristas com início marcado para 12 de agosto próximo, alertando para o impacto que a paralisação terá na economia e na imagem do país. Em declarações ao Expresso, a presidente-executiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), Cristina Siza Vieira, adverte para as consequências que a greve poderá ter ao nível do sector e de todos os subsectores associados com relevo económico. 
 
“Se a greve avançar, tememos um impacto brutal que prejudique o balanço do ano. A importância de agosto é inegável para este sector que é fundamental para o nosso país”, afirma Cristina Siza Vieira, sublinhando que em agosto de 2018 registaram-se mais de três milhões de hóspedes em Portugal, dos quais 23% se concentraram no Algarve. 
 
Segundo a presidente da AHP, o impacto da greve poderá ser maior uma vez que o inquérito de verão deste ano embora não antecipe um crescimento da taxa de ocupação, que é sempre elevada nesta época, prevê um aumento do valor do preço médio e rentabilidade por quarto. 
 
Por isso, destaca Cristina Siza Vieira, há cautelas adicionais em relação ao Algarve, onde 60% dos turistas nesta época são estrangeiros. “A região tem uma carga maior sobre si a nível do território e das infraestruturas. É necessário acautelar também a zona onde o gás natural não chega por gasoduto. Convém lembrar ainda que os cidadãos estrangeiros se encontram numa situação de certa fragilidade, não têm plano alternativo, não falam a língua e estão longe de casa, podendo necessitar, por exemplo, de recorrer a serviços de saúde”, defende a líder da AHP
 
Cristina Siza Vieira sustenta ainda que é preciso garantir o fornecimento de bens e serviços em todo o território nacional e não assegurar apenas 40% de serviços mínimos em Lisboa e Porto, como se verificou na greve de abril. “Já avisámos o Turismo de Portugal de que é preciso acautelar mais os serviços mínimos – que devem abranger todo o território nacional – visto que se encontra também mais população no sul do país. Não podem ser por exemplo só 30% de serviços mínimos”, insiste. 
 
A diretora-executiva da AHP adianta ainda que a associação já apelou aos seus associados para assumirem uma “gestão criteriosa dos stocks”, de forma a minimizar o eventual impacto da situação depois de a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) ter alertado para a possibilidade de as prateleiras dos super e hipermercados ficarem vazias na sequência da greve de motoristas. 
 
“Mas, em primeiro lugar, nós desejamos que esta greve não avance e que haja até lá um acordo entre os sindicatos e o empregador. É essa a nossa esperança”, insiste Cristina Siza Vieira. 
 
Contactada pelo Expresso, a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) sublinhou que uma vez que se trata apenas de um pré-aviso de greve prefere não antecipar os efeitos que serão “naturalmente negativos”, esperando que a paralisação não chegue mesmo a avançar. 
 
O presidente da Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL), Florêncio de Almeida, também se mostra otimista em relação às negociações entre os sindicatos do sector e a ANTRAM mas defende que é vital que o Executivo prepare desde já um ''plano B''. “O Governo tem que encontrar necessariamente uma solução até porque agosto é um mês muito turístico e há um maior consumo de combustível. Em qualquer caso, esperamos que o Governo se prepare antecipadamente porque afinal este é um sector que movimenta o país. Não é compreensível que o Governo não tenha um plano de resposta”, declara Florêncio de Almeida. 
 
O líder da ANTRAL diz acreditar que a concretizar-se esta greve não deverá ter o mesmo impacto da última paralisação em abril, quando os portugueses correram aos postos de combustível e formaram enormes filas.“O nosso objetivo é que não haja tantos condicionamentos, porque houve muitos carros parados da última vez. Os serviços mínimos têm que ser cumpridos. Mas acredito que o impacto dificilmente será tão grave, uma vez que o país não pode parar. Nem que o Governo tenha que colocar bombeiros e militares a conduzirem camiões-cisterna. Estou convencido que desta vez o Governo vai estar preparado”, acrescenta. 
 
De acordo com Florêncio de Almeida, a Sociedade de Óleos e Rações já pediu também apoio à ANTRAL para reforçar o apelo junto do Governo relativamente ao possível impacto desta greve, frisando que “os animais não podem morrer à fome”. 
 
“Nós já alertamos o Governo que o combustível tem que estar disponível se o sindicato não cumprir os serviços mínimos. Mas estamos englobados na área do transporte público pelo que estamos mais tranquilos porque têm que estar previstos serviços mínimos”, insiste o líder da ANTRAL. 
 
Embora reconheça que é legítimo o direito à greve destes trabalhadores, Florêncio de Almeida reitera que as consequências para outros sectores têm que ser necessariamente acauteladas. 
 
O Expresso contactou também a Associação Portuguesa De Empresas Petroliferas (APETRO) para perceber o impacto no sector, mas sem sucesso. 
 
Esta quarta-feira, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, recomendou aos portugueses que abastecessem as suas viaturas como medida de precaução no caso de avançar a greve dos motoristas a 12 de agosto. Já o ministro do Trabalho, Vieira da Silva, disse não compreender o conflito que conduziu ao pré-aviso de greve de motoristas, colocando em causa a “credibilidade” do movimento sindical e desencadeando uma paralisação com “consequências muito pesadas” para a maioria dos portugueses e para a economia nacional. 
 
A Associação Nacional de Transportes Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) e os sindicatos dos motoristas – Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) e o Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM) –, não chegaram esta tarde a acordo sobre os serviços mínimos numa reunião que decorreu na Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT). O pré-aviso dos sindicatos dos motoristas propõe serviços mínimos de 25% em todo o país, enquanto a Associação Nacional de Transportes Públicos Rodoviários (ANRAM) sugere serviços mínimos de 70%. 
 
Na quinta-feira, o secretário de Estado da Energia, João Galamba, assegurou, em entrevista ao "Dinheiro Vivo" e à TSF, que o Governo está a preparar uma “rede de abastecimento de emergência” se não forem cumpridos os serviços mínimos, acautelando que a região do Algarve continuará também a ser abastecida com gás. 
 
Durante a paralisação será prioritário o abastecimento de “portos, aeroportos e postos de abastecimento das empresas que têm por objeto a prestação de serviço público de transporte de passageiros, rodoviários, ferroviários e fluviais, assim como estruturas residenciais para pessoas idosas, centros de acolhimento residencial para crianças e jovens, estabelecimentos de ensino, IPSS e Santas Casas da Misericórdia”, segundo o executivo. 

in Expresso online

Créditos da imagem: Carlos Barroso/LUSA

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