“Precisamos de ser ajudados”, afirma presidente da AHP
Bernardo Trindade tomou posse, no dia 22 de abril, como presidente da AHP e no discurso proferido fez o retrato de um setor animado com o regresso mas a precisar de ser ajudado para que a atividade possa regressar com qualidade.
A intervenção proferida por Bernardo Trindade na sua tomada de posse como presidente da Associação da Hotelaria de Portugal, foi dividida em duas partes, uma mais voltada para dentro, para os associados (ler notícia), outra virada “para fora”, em que falou, essencialmente, dos desafios que se colocam à retoma da atividade, num momento marcado por uma conjuntura difícil.
“O turismo vive um momento de regresso”, afirmou Bernardo Trindade, que recordou as “dificuldades sem paralelo” vividas nos dois últimos anos “com hotéis fechados e colaboradores em casa”, uma situação de “paralisação da atividade” que apenas foi possível ultrapassar com o apoio das instituições públicas. Mas embora reconhecendo o esforço que essas medidas representaram, o presidente da AHP não deixou de reconhecer também que empresas estão longe do que eram antes da pandemia, que “a qualidade dos nossos balanços deteriorou-se bastante”.
Por isso, embora assuma que “estamos animados com este regresso” da atividade, deixa claro que existem grandes preocupações, desde logo com a “inflação de preços da cadeia de produção sem precedentes” provocada pela guerra na Ucrânia, tendo, por isso, apelado a que as instituições continuem a apoiar o setor.
“Precisamos de ser ajudados”, afirmou, explicando que o que a AHP pretende é “trabalhar conjuntamente com as instituições públicas para que os nossos balanços, a qualidade da nossa produtividade possa prosseguir”.
Neste apelo dirigido ao Governo para que apoie a capitalização das empresas, Bernardo Trindade referiu-se ao Banco de Fomento, no qual os hoteleiros depositam “grandes e fundadas expectativas”, sendo no entanto necessário “agilizar por completo a sua atuação” para que os apoios possam, também, ser agilizados.
“É preciso um Simplex para os recursos humanos”
Fundamentando o apelo aos apoios à atividade, recordou que até 2019 era o turismo que liderava a criação de riqueza e o emprego em Portugal, tendo o setor chegado a empregar mais de 400 mil pessoas, um panorama que nada tem a ver com o que hoje se vive já que o turismo, um dos setores mais penalizados com a pandemia, perdeu 45 mil profissionais. “Sendo este um fenómeno global, é um tema que temos de debater: porque é que nos tornámos menos apelativos do ponto de vista da força de trabalho?”, questionou, afastando a habitual justificação de que é necessário “pagar melhor”, uma vez que, sublinhou, “já estamos todos a pagar melhor” e ainda recentemente, o acordo assinado com o SITESE – e que a AHP pretende também assinar com a FESAHT – resultou “numa atualização das carreiras e dos salários”.
Bernardo Trindade assegurou mesmo que a AHP está disponível para o debate sobre a Agenda do Trabalho Digno, que tem o presidente da Confederação do Turismo de Portugal, Francisco Calheiros, como representante nas reuniões da Concertação Social.
Para fazer face à escassez de recursos humanos, foi assinado um acordo de mobilidade com a CPLP mas Bernardo Trindade apelou à simplificação de processos, dizendo mesmo que tem que ser instituído um “Simplex para os recursos humanos”. Ainda neste âmbito, instou o IEFP a estar “ao serviço das empresas”.
Os desafios do lado da procura: TAP, Aeroportos, SEF
Olhando no sentido da procura, Bernardo Trindade referiu-se ao SEF, para apelar ao fim das filas que se formam à chegada dos passageiros de longo curso, dando “uma imagem péssima de um país que quer singrar no Turismo”. Outro mau exemplo é o do Aeroporto da Madeira que carece de equipamentos modernos que permitam monitorizar as aproximações dos aviões à pita: “é um investimento que andará à volta de três a quatro milhões de euros, para perceberem o ridículo desta situação”, afirmou.
Referiu-se ainda à TAP para afirmar que a companhia aérea representa um “instrumento fundamental” para o turismo em Portugal, embora tenha “de ser corrigido”, defendendo que a transportadora devia considerar o reforço de presença nos aeroportos de Faro e do Porto. Muito embora tenha consciência de que há que ter em conta “a viabilidade de cada uma das rotas”.
Tema que não pode faltar quando se fala da procura turística é o do Aeroporto de Lisboa e a ele também se referiu o presidente da AHP, para enfatizar que “estamos há mais de 50 anos nesta discussão, é tempo de decidir e decidir sem receio” porque “Portugal não se pode dar ao luxo de perder clientes porque não tem slots para disponibilizar”
A terminar, Bernardo Trindade deixou claro que a AHP diz “presente” aos desafios que o turismo tem pela frente e faz isso pela hotelaria e pelo turismo mas também por entender que “Portugal merece um contributo do turismo que vá ao encontro das expetativas de milhares de pessoas que optaram por fazer carreira neste setor”.
A tomada de posse dos novos órgãos sociais da AHP para o triénio 2022-2024, contou com a presença da secretária de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, Rita Marques, e da sua antecessora, Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.
in Turisver