Cristina Siza Vieira: “Neste momento temos de abrir o nosso espaço e inventá-lo para outras funções”
A última sessão da IPDT Tourism Conference recebeu Cristina Siza Vieira, presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), que defendeu que pequenos hotéis e os maiores grupos hoteleiros estão todos “no mesmo barco” em termos dos efeitos “dramáticos” da pandemia no seu negócio. Além disso, explicou a sua posição relativamente ao uso dos hotéis para outros fins, comentando tratar-se de uma oportunidade para a sua “sustentabilidade económica”.
Cristina Siza Vieira atenta que “90% do tecido económico do país é constituído por PME’s e muitas microempresas” mas que “a coluna vertebral da hotelaria também é constituída por grandes empresas”. Recorda, a título de exemplo, que o Pestana Hotel Group sofreu uma “queda abruta” com “resultados dramáticos” em 2020. Embora este seja um grande grupo hoteleiro, tem uma “situação pesadíssima” em termos de responsabilidade social para com os cerca de 2.500 colaboradores, e famílias, que emprega. Em suma, “estamos todos no mesmo barco” independentemente da dimensão dos negócios – todos foram afetados drasticamente pela Covid-19.
Contudo, a presidente executiva da AHP admite que “são diferentes os impactos que cada empresa tem” até porque há empresas com maior “resistência” que tiveram “melhores anos, amortizaram dívida ou não contraíram nova, aproveitaram para se reestruturar e estavam a investir e alargar o seu portefólio”.
Dito isto, para grandes ou pequenos, as perdas estimadas pela AHP são “brutais” apontando para uma perda de 70% das dormidas (- 40 milhões de noites) e 80% das receitas (- 3,6 mil milhões de euros). Segundo o seu último inquérito, 43% dos hotéis vão “encerrar pelo menos cinco meses” e os que não o fazem têm uma redução de 30% na sua capacidade. 50% dos inquiridos que vão encerrar unidades “poderão abrir em março de 2021”.
Cristina Siza Vieira conclui, assim, que “o país não está a fechar todo à mesma velocidade” e que “o impacto destes encerramentos na hotelaria é distinto”: Lisboa, Algarve e Açores já fecharam muitos dos seus hotéis. O Norte, Alentejo e Centro estão a começar a encerrar. Além disso as cidades, como o Porto, “estão a ter um impacto brutal porque lhes falta o segmento de negócios e os eventos”. No fundo, em média, 50% das unidades hoteleiras em Portugal estão encerradas e cerca de 70% das camas “não estarão ocupadas até ao final do ano”, avança a responsável.
A AHP mantém, ainda, uma “preocupação acrescida com os trabalhadores” porque depois dos “apoios usados a 100% na indústria” já começa o término de contratos a termo e cessação de outros. Cristina Siza Vieira não tem dúvidas de que “o retrato é negro”.
A abertura da hotelaria a outros fins
A AHP há muito que defende a utilização dos hotéis para outros fins e a pandemia só veio “acelerar” tal proposta para o Governo. A presidente executiva argumenta que “o hotel não são apenas quartos para alojamento de hóspedes” mas que, de facto, “há muito ainda em Portugal esta visão monolítica de que os quartos são para dormir e alojar turistas”.
Segundo a própria, os hotéis são “mix-use” pois servem muitas outras funções, como serem espaços para “reuniões, eventos, festas de família, casamentos etc”. Há também toda uma “comunidade nómada de trabalhadores que quer estar durante mais tempo nos hotéis onde lhes é prestado determinado serviço”, unidades que podem servir, durante a época baixa de inverno, como Centros de Dia e residências para estudantes.
Em tempos de pandemia, “já que temos tantas unidades de alojamento ociosas e necessidades por parte de outros prestadores de serviços”, a lei – até dezembro de 2022 – vem “permitir que estes usos possam ser praticados com contratos de alojamento de maior duração”, explica Cristina Siza Vieira. Em suma, “vem assinalar a abertura da hotelaria a outros fins”.
A presidente executiva da AHP defende que “neste momento temos de abrir o nosso espaço e inventá-lo para outras funções”, sem “deixar ociosos os espaços” e fazendo “render os nossos talentos”. Além de que tal mudança permite uma “oferta mais dinâmica” e “novos fluxos de investimento”, contribuindo para a “sustentabilidade económica” dos hotéis. A responsável recorda que, atualmente, cerca de 40% das receitas da hotelaria provém de outras utilizações que não apenas o alojamento.
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